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Viga Gordilho celebra 50 anos de arte
Com exposição e lançamento de livro no MAB
Artista visual, professora e pesquisadora, Viga Gordilho, que tem uma exitosa carreira internacional, celebra seus 50 anos de arte com a abertura da belíssima mostra retrospectiva “ComparTRILHAmentos Poéticos – Vida e Obra”, onde apresentará suas pesquisas artísticas, reunindo fotografias, pinturas, objetos e livros publicados, que pontuam sua trajetória, e trabalhos inéditos realizados durante a pandemia. A exposição tem curadoria de Luiz Alberto Freire.
O evento de abertura desta celebração acontecerá no dia 5 de maio, a partir das 19h, no MAB – Museu de Arte da Bahia, que fica no Corredor da Vitória. A mostra fica em exposição até 19 de junho.
Trilhas…
As salas principais do MAB serão ocupadas pela mostra “ComparTRILHAmentos Poéticos – Vida e Obra”. Na primeira sala expositiva – “Terra” – serão apresentadas telas banhadas de pigmento preto, onde organismos modelados em fibras repousam nelas e também em caixas de acrílico. Folhas eternizadas em ouro, prata e cobre trazem alento sobre fotografias no ambiente batizado de “Fogo”.
O lápis-lazúli macerado nas obras de Viga Gordilho banha três paredes do Museu, velando e revelando jardins azuis memoráveis onde germinam outras obras, no ambiente “Água”. Em uma segunda sala serão apresentadas telas coloridas em distintos matizes, criadas pela artista nas décadas de 70, 80, 90 e nos anos 2000. A sala foi batizada de “Quatro Estações do Ano”. “Diálogos Possíveis” é o nome da sla aque abriga 18 trabalhos de ex-orientandos e orientandos atuais, representando o alunado que Viga teve durante estes 50 anos de atuação no magistério.
Folhas sagradas elaboradas em vidro irão flutuar na instalação “Trilhas de Cristal”, no ambiente “Ar”. Nesta terceira sala será abrigada também uma obra da artista portuguesa Teresa Almeida, orientadora de Viga Gordilho no Pós Doutoramento na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto/ Portugal, estágio que Viga Gordilho realizou em 2019.
O projeto ainda abraça um workshop, “Transparências e Fragilidades Atemporais” (de 2 a 9 de maio) que acontecerá na Escola de Belas Artes da UFBA e a palestra “Transparências, Opacidades e Luz” (4 de maio), que será proferida no MAB – Museu de Arte da Bahia, ambos com Teresa Almeida, artista portuguesa que virá ao Brasil para participar do evento. Na mesma ocasião, no dia 4, a artista lançará o seu livro “ComparTRILHAmentos Poéticos – um memorial em tempo gerúndio”, fruto da sua defesa para Professor Titular da UFBA, realizada em junho de 2020.
Já a instalação “Trilhas de Cristal”, de Viga Gordilho, receberá no dia 16 de maio as peças realizadas durante o workshop. No dia 8 de junho, às 17h, no MAB, Viga Gordilho profere a palestra “Registros e Reflexões Sobre o Processo Criativo. A mostra fica em exposição até 19 de junho.
A mostra retrospectiva “ComparTRILHAmentos Poéticos” começou a tomar forma a partir dos caminhos que Viga Gordilho veio trilhando desde seu doutorado na Escola de Comunicações e Artes da USP, realizado de 2000 a 2003.
O curador Luiz Alberto Freire fala sobre a artista e a mostra : “Viga Gordilho vem de uma experiência artística de 50 anos, tanto na docência, quanto na produção. Sua poética tem mudado sob motivações estabelecidas a partir do mestrado, do doutorado e das pesquisas posteriores a esses estágios. Essa mostra fará um grande balanço desse trajeto, reunindo a partir da produção atual, tudo de mais importante que foi realizado, inclusive os projetos coletivos. É uma grande oportunidade de conhecer sua obra, seu pensamento e sua poética.
A curadoria partiu da produção artística atual, mas podemos dizer que ela vem sendo construída ao longo de muitos anos em que fomos colegas na Escola de Belas Artes e que acompanhamos os projetos e as realizações da artista. É, portanto, uma construção vivencial, mas que tem muita participação da criadora. Funcionamos como conselheiro, opinador e provocador.”
Sobre a exposição de Viga Gordilho, a diretora do Museu de Arte da Bahia, Ana Liberato declarou : “O Museu de Arte da Bahia tem a honra de receber a Exposição ComparTRILHAmentos Poéticos – Vida e Obra”, da artista Viga Gordilho, graduada em Desenho e Plástica pela Escola de Belas Artes da Ufba, Mestre em Artes EBA/UFBA e Doutora em Artes pela ECA – Escola de Comunicações em Artes-USP. Os símbolos provenientes do entrelaçamento cultural afro-indígena brasileiro, constituem o principal objeto de sua pesquisa o que a torna uma artista impregnada de brasilidade”.
O Museu de Arte da Bahia é vinculado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia, autarquia da Secretaria de Cultura do Governo da Bahia ( SecultBa).
Um recorte das reflexões da artista Viga Gordilho, sobre sua mostra:
No fundo, é isso, a solidão: envolvermo-nos no casulo da nossa alma, fazermo-nos crisálida e aguardarmos a metamorfose, porque ela acaba sempre por chegar.
August Strindberg
Durante o outono de 2019, caminhei nas margens do Douro, agendando os dias com folhas sagradas recolhidas em cada lugar que passava. Elas indiciaram minhas trilhas em Portugal durante meu estágio de pós-doutoramento na Faculdade de Belas Artes, na Universidade do Porto.
Nesses percursos diários, desenhei analogias poéticas entre as nervuras dessas folhas e os trançados nagô que desvelavam os caminhos para os quilombos.
Modelei e pintei.
Assim, musgos, nervuras, cristais, corantes, transferências, pigmentos, tranças e quilombos se expandiram dos objetos, que registravam em si as marcas de todo processo, deixando o azul ultramar tingir meu imaginário e minhas telas.
Revisitei, então, minha produção e atuação no ensino da arte, iniciadas em 1972. Rememorei inúmeros projetos realizados e muitas trilhas compartilhadas com nosso grupo de pesquisa MaMeTo – CNp, alunos e comunidades, em outras margens fluviais – Paraguaçu, Tietê, Turia, Reno e Orange.
Como convém a uma artista pesquisadora, escrevi o livro ComparTRILHAmentos poéticos, defendendo o Memorial para promoção a Professora Titular da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, em junho de 2020, em plena pandemia.
Tempo de espera e recolhimento – SILÊNCIO.
Tecendo fibras e as colorindo com folhas tintoriais, organismos foram surgindo – ninhos, casulos, crisálidas…
Outras modelagens foram, aos poucos, pousando nas telas. Os metais amarelos e brancos, usados nas ferramentas dos orixás, eternizaram folhas sagradas, enquanto as linhas curvas dos rios abriram caminhos invadindo verticalidades e horizontalidades urbanas que aqui se cruzam e repousam nas telas.
Nessa exposição retrospectiva, só gratidão.
Afeto, sempre.
Viga Gordilho
Outono 2022
Fotos: fornecidas pela artista